O curso de Produção Cultural
Arte, cultura, produção
O campo da Produção Cultural nunca havia sido objeto de amplas e sistêmicas políticas públicas que apontassem para as múltiplas dimensões que podia ensejar. Contudo, desde a última década do século passado, e mais especificamente na primeira década do século XXI, o campo cultural ganhou uma importância ímpar dentro das políticas públicas do país. Um dos aspectos que permitem constatar essa mudança foi a própria constituição e difusão de cursos acadêmicos voltados para formação de agentes interessados em pesquisar, conhecer e atuar no campo cultural. O campo disciplinar da Produção Cultural tem um histórico acadêmico bastante recente no Brasil. Nos anos de 1995 e 1996 surgiram os primeiros cursos de graduação na Universidade Federal Fluminense e na Universidade Federal da Bahia. Em 2003 é inaugurado o curso de Produção Cultural do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia – IFRJ/Nilópolis que se tornará bacharelado na área somente em 2012. Todo esse movimento gerou encontros importantes como o ENECULT, conduzido pela Universidade Federal da Bahia/UFBA, e também o Seminário Internacional de Políticas Culturais, conduzido pela Fundação Casa de Rui Barbosa, que tiveram papéis fundamentais na articulação dos agentes atuantes nesse campo. Essas e outras iniciativas marcam o início das atividades acadêmicas voltadas a agentes e produtores culturais que pudessem, providos de uma formação mais específica, atuar em ações, gestões e projetos que refletissem sobre os conhecimentos gerados nas mais variadas áreas do campo da cultura.
Atualmente inúmeras instituições vem também oferecendo cursos de formação em Produção Cultural, seja em nível de graduação como também de especialização, revelando a demanda por profissionalização por parte de agentes que, até bem pouco tempo, exerciam essa função somente a partir de suas experiências e vivências práticas. O processo de formação em Produção Cultural sedimenta um conjunto de conhecimentos que abrange inúmeras áreas, mobilizando saberes e fazeres sobre diversos campos de conhecimento. A cultura, por sua própria dinâmica, abrange diferentes dimensões da vida cotidiana que vão desde os processos criativos individuais e coletivos passando pela formação de redes de difusão e disseminação dessas produções, envolvendo ainda aspectos educativos relativos à transmissão dessas práticas por meio da cooperação entre o que o sociólogo Howard Becker chama de “mundos culturais”. Cabe aos produtores pesquisar e conhecê-los, refletindo sobre as necessidades postas por essas cadeias produtivas, entendendo ainda os parâmetros e premissas segundo as quais se dão a circulação e o consumo das produções culturais geradas. O campo da Produção Cultural demanda do processo educacional um continuado e ativo olhar analítico e reflexivo sobre a cultura em toda sua complexidade, diversidade e dinâmica, pois os contextos sociais se transformam continuamente apontando sempre para novos desafios a serem enfrentados.