Juliana da Silva Pinto Carneiro
Nasci em Campos dos Goytacazes, em 1973, mesmo ano em que a Mangueira foi campeã do carnaval, com o samba enredo “Lendas do Abaeté” e o flamengo foi vice-campeão carioca perdendo para o Fluminense num Maracanã lotado. Claro não me lembro de nada disso, mas suspeito que, de alguma forma, estes fatos históricos inspiraram minhas escolhas futuras. Ser flamenguista e mangueirense são os primeiros dados que gostaria de registrar nesta minha minibiografia.
Aos dezessete anos me mudei pra Niterói, para cursar história na UFF. Eu queria ser professora e naquele momento eu achava que estudar história iria me ajudar a “ler o mundo” e entender porque as coisas são de uma forma e não de outra. Rapidamente percebi que, muito mais do que ensinar datas ou personagens, a universidade imprimiu em mim um permanente sentimento de estranhamento, tão caro aos historiadores. Assim, o curso de história me deixou como legado um compromisso permanente de pensar a nossa sociedade -passado, presente e futuro- como processo que é tecido na contradição e na luta, que não tem, necessariamente, um caminhar linear e harmônico.
Apesar de minha formação ser de uma “historiadora raiz” – graduada em História pela Universidade Federal Fluminense (1994), mestre em História pela Universidade Federal Fluminense (1999) e doutora em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2020) – meu percurso profissional tem sido marcado por experiências diversificadas.
Nos últimos 20 anos eu trabalhei na gestão pública, ao mesmo tempo que acumulava (em alguns períodos) o trabalho de docência com adolescentes em escolas da rede particular de ensino. Meu primeiro emprego foi, em 1997, na diretoria de Memória Cultural da Prefeitura de Niterói. Ali entendi que o campo das políticas públicas seria minha escolha profissional, inicialmente, como gestora e, atualmente, como pesquisadora.
De lá pra cá, exerci diversas funções na administração pública municipal, entre elas Secretária Municipal de Planejamento da Prefeitura de Niterói (2003-2005) e Secretária Executiva da Prefeitura de Niterói (2005-2006). No Governo Federal, cedida pela UFF, fui assessora na Subchefia de Assuntos Federativos da Presidência da República (2007-2010), Secretária Executiva Adjunta do Ministério da Saúde (2011-2014) e Diretora de Operações e Serviços da Autoridade Pública Olímpica, tendo exercido funções na área de planejamento dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio2016.
Desde 2006, sou docente no Departamento de Artes e Estudos Culturais\UFF, em Rio das Ostras, onde ministro disciplinas na área de planejamento cultural (linhas de pesquisa: gestão pública de cultura e políticas culturais). Em 2017, retomando minhas atividades acadêmicas, me associei, como pesquisadora, ao “Sport: Laboratório de História do Esporte e do Lazer” vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Neste mesmo ano me tornei pesquisadora da Cátedra UNESCO de Políticas Culturais (FCRB). Dois anos depois (2019), vivi uma experiência acadêmica muito rica como investigadora visitante da Universidade de Lisboa.
Atualmente, participo de dois projetos de extensão, vinculados ao RAE (Artes, Diversidade Cultural e Educação e Revista Arte e Cultura). Desde 2021, assumi também a Chefia do Departamento de Artes e Estudos Culturais.
Nos últimos anos, escrevi alguns artigos e coordenei livros com ênfase no campo das políticas públicas de cultura. Nestes escritos, assim como em sala de aula, tenho procurado pensar e discutir experiências que potencializam o diálogo entre o os “fazedores de cultura”, pesquisadores, alunos, professores e gestores culturais.
Confesso que não considero uma tarefa fácil, em 2022, ser uma professora e pesquisadora que trabalha com políticas públicas de cultura. Vivemos uma conjuntura de desmonte institucional de um campo, já castigado historicamente. Minha estratégia tem sido recorrer ao filósofo Walter Benjamin que nos ensina a lidar com os retrocessos nos processos históricos. Seus escritos funcionam, pra mim, como uma injeção de ânimo que me faz apostar na capacidade cotidiana do “povo da cultura” de lidar com as adversidades e seguir no seu ofício criativo.
Além disso, e principalmente, tem a parceria de meus filhos (José e João), amor infinito, da terra até a lua, mil vezes, a quem agradeço os melhores momentos de minha vida.