Nasci em Volta Redonda/RJ, e desde os meus 9 anos comecei a tocar violão e me interessar por música. Com 18 anos, ingressei na Universidade Federal do Rio de Janeiro para fazer o curso de Biologia mas em poucos anos já havia pedido transferência para a Escola de Música. Minha graduação em música foi interrompida entre 1988 e 1991, quando me mudei para o sul do estado de Roraima para trabalhar como professor no Subprograma de Educação do Programa Waimiri-Atroari (www.waimiriatroari.org.br), que visava ressarcir esta comunidade indígena pelo alagamento de suas terras pela Hidrelétrica de Balbina. Iniciando o processo de escolarização, ministrei aulas de português, etnomatemática e da própria língua waimiri que ia aprendendo enquanto ensinava os indígenas a escrevê-la. Ainda em 1989, passei a coordenar o processo de escolarização ampliando-o a todas, então, 13 aldeias. Antes do retorno ao Rio de Janeiro, ao final do ano de 1991, entregamos  um dicionário bilíngue e um livro de histórias tradicionais contadas pelos pajés, para que servissem de base para o processo de escolarização. Essa foi uma das experiências mais transformadoras e marcantes da minha vida e que me fez rever minhas convicções sobre o que seja cultura e a própria realidade brasileira.

Em 1994, retomei os estudos de música pela UFRJ tendo me graduado bacharel em violão em 1998. Em 2000, lancei meu CD-Marubá, todo com composições próprias, cujo título da canção que dá nome ao disco, pretende fazer uma homenagem à principal cerimônia dos Waimiri-Atroari e, de modo geral, às festas como importantes momentos de comemoração e celebração em todas as culturas, estejam onde estiverem. Divulgando o CD, participei de show em diversos teatros e espaços culturais, como a Sala Funarte e o SESC, tendo contado com a participação da cantora Fátima Guedes como minha “madrinha” no lançamento do CD pelo projeto Novo Canto no SESC São Gonçalo em 2002.

Ainda em 1999, participei da publicação de dois livros sobre candomblé ketu-nagô no Rio de Janeiro, publicados pelo saudoso sociólogo e babalorixá José Flávio Pessoa de Barros. Entre 2001 e 2003, essas publicações me levaram a propor o mestrado em etnomusicologia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro/UNIRIO, quando estudei a relação entre a mítica e a rítmica dos tambores sagrados do candomblé. Ainda em 2003, comecei a trabalhar com pesquisador do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular- CNFCP/IPHAN, que foi pra mim uma verdadeira escola de vida, onde tive a oportunidade de participar de inúmeros projetos ligados às culturas populares e ao patrimônio imaterial. Atuei no registro da viola-de-cocho, e em pesquisas sobre a construção das violas de 10 cordas em Minas Gerais na região do alto-médio rio São Francisco.

O encantamento pelo sertão “do Geraes” e pelo vale do São Francisco me conduziram, também na área da etnomusicologia pela UNIRIO, a iniciar em 2005 um doutorado sobre o grupo do Terno de Reis dos Temerosos da cidade de Januária/MG. Os registros fonográficos feitos pelo pesquisador Joaquim Ribeiro para a Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro em 1959 com o grupo, me inspiraram a estudar o papel cumprido pelas políticas públicas de incentivo às culturas populares no interior do pais. Durante o doutorado, finalizado em 2009, coordenei o Ponto de Cultura – Centro de Artesanato de Januária que reúne e comercializa a produção de artesanato de tradição de toda a região (www.instagram.com/centrodeartesanatojanu/). Em 2012, finalizamos e entregamos ao Terno de Reis, um CD duplo que contém as gravações históricas e as que fizemos com o grupo nesse período. Em 2011, entrei para o serviço público federal para atuar como Técnico em Assuntos Culturais do Museu Villa-Lobos do Instituto Brasileiro de Museus/IBRAM. Nesses poucos anos tive a oportunidade de participar da revisão e reedição do Catálogo de Obras do maior compositor erudito brasileiro.

Em 2014, me tornei professor da graduação em Produção Cultural no campus de  Rio das Ostras onde venho ministrando as disciplinas mais ligadas ao universo da música e da cultura. Elaborei o projeto “SomNatividade” que, entre 2014 e 2016 realizou três edições de eventos de música no polo universitário. A partir de 2016, juntamente com um grupo de professore/as de outros cursos da UFF, começamos a organizar um dos projetos mais inspiradores e potencialmente transformadores da universidade brasileira: o “Encontro de Saberes”, criado pelo antropólogo José Jorge de Carvalho e formalizado por meio de um convênio entre a UFF e o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Inclusão/INCTi-Unb. Com ele buscamos inserir os mestres e mestras das culturas populares como docentes ministrando aulas, juntamente conosco, na universidade. O que queremos é dar visibilidade e reconhecimento acadêmico a esse/as mestres e mestras pleno/as de conhecimentos que historicamente sempre estiveram excluídos do ambiente universitário. Com indígenas guarani, jongueiro/as, ogâs e alabês, contadore/as e cantadore/as temos dividido aulas que inspiram e trazem novas ares e experiências para as salas e os corredores acadêmicos.

Por sempre ter procurado estudar a relação entre música e cultura, me tornei vice-presidente da Associação Brasileira de Etnomusicologia em 2017 e, juntamente com a diretoria, produzimos o VIII Encontro da ABET no Rio de Janeiro. Esses encontros da associação têm reunido trabalhos e pesquisas sobre os mais diversos temas relacionados práticas musicais, cultura e sociedade, formando já um rico acervo a ser explorado. Durante a pandemia, com a supervisão do professor Samuel Araújo, realizei um estágio pós-doutoral no Laboratório de Etnomusicologia/UFRJ, ao qual me associei como pesquisador e venho atuando em vários projetos.

Em resumo, nessa trajetória de tantas parcerias, trabalhos, pesquisas e projetos lembro sempre o que disse Friedrich Nietzsche: “Sem música a vida seria um erro”. De fato, e por isso, sigo tocando, tentando fazer da vida um acerto.

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